Hoje estou a preparar o dia 8...
Este poema foi-me oferecido, neste mesmo Blog, o ano passado, por esta altura, estava eu a iniciar o MULHERES NA NOVA ERA, pelo meu Maestro e amigo Rui Pinto, a quem agradeço, pois continua sempre lindo e actual...
AS MULHERES DA MINHA GERAÇÃO
Tradução livre de Luiz Augusto Michelazzo
É o único tema em que sou radical e intolerante,
No qual não escuto argumentações:
As mulheres da minha geração são as melhores e ponto.
Hoje têm quarenta e muitos, inclusive cinqüenta e tal , e são belas, muito belas,
Porém também serenas, compreensivas, sensatas e sobretudo diabolicamente sedutoras,
Isto, apesar dos seus incipientes pés-de-galinha ou desta afectuosa celulite que cobre as suas Coxas,mas que as fazem tão humanas, tão reais.
Formosamente reais.
Quase todas, hoje, estão casadas ou divorciadas, ou divorciados e recasadas,
Com a intenção de não se equivocar no segundo intento,
Que às vezes é um modo de acercar-se do terceiro e do quarto intento.
Que importa?
Outras, ainda que poucas, mantém um pertinaz celibatarismo e protegem-no como a uma fortaleza sitiada que, de qualquer modo, de vez em quando abre as suas portas a algum visitante.
Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!Nascidas sob a era de Aquário, com a influência da música dos Beatles, de Bob Dylan,
De Lou Reed, do melhor cinema de Kubrick e do início do boom latino-americano, são seres excepcionais.
Herdeiras da revolução sexual da década de 60 e das correntes feministas,
Que entretanto receberam, passadas por vários filtros, elas souberam combinar liberdade com coqueteria,
Emancipação com paixão, reivindicação com sedução.
Jamais viram no homem um inimigo, apesar de lhe terem cantado umas quantas verdades ao ouvido,
Pois compreenderam que emancipar-se era algo mais que colocar o homem a esfregar a casa de banho.
Ou trocar o rolo de papel higiênico, quando este tragicamente se acaba,
E decidiram pactuar para viver em dupla, essa forma de convivência que tanto se critica,
Porém, que com o tempo, resulta ser a única possível, ou a melhor, ao menos neste mundo e nesta vida.
São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam.
Usaram saias indianas aos 18 anos, enfeitaram-se com colares andinos,
Cobriram-se com sweters de lã e perderam a sua parecença com Maria, a Virgem,
Numa noite louca de sexta-feira ou de sábado, depois de dançar El Raton,
Com algum amigo que lhes falou de Kafka, de Gurdjieff e do cinema de Bergman.
No fundo das suas mochilas havia pacotes de Pielroja, livros de Simone de Beauvoir e
Fitas de Victor Jara, e ao deixar-nos, quando não havia mais remédio senão deixar-nos,
Dedicavam-nos aquela canção de Héctor Lavoe,que é ao mesmo tempo um clássico doJornalismo e do despeito, e que se chama.
Teu amor é um jornal de ontem.
Falaram com paixão de política e quiseram mudar o mundo, beberam rum cubano e
Aprenderam de cor canções de Silvio Rodriguez e Pablo Milanez,
Conheceram os sítios arqueológicos importantes, foram com os seus namorados às praias,
Dormindo em barracas e deixaram-se picar pelos mosquitos, porque adoravam a liberdade e,
Sobretudo, juraram amar-nos por toda a vida, algo que sem dúvida fizeram e que hoje continuam
A fazer na sua formosa e sedutora maturidade.
Souberam ser, apesar da sua beleza, rainhas bem educadas, pouco caprichosas ou egoístas.
Deusas com sangue humano.
O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro para que suba,
Se inclina sobre o assento e, por sua vez, abre a do seu acompanhante por dentro.
A que recebe um amigo que sofre, às quatro da manhã, ainda que seja o seu ex-noivo,
Porque são maravilhosas e têm estilo, ainda quando nos façam sofrer, quando nos enganam ou nos deixam,
Pois o seu sangue não é gelado o suficiente para não nos escutar nessa salvadora e última noite,
Na qual estão dispostas a servir-nos o oitavo uísque e a colocar, pela sexta vez, aquela melodia do Santana.
Por isso, para os que nascemos entre as décadas de 40 e 60, o dia da mulher é, na verdade, Todos os dias do ano, cada um dos dias com as suas noites e os seus amanheceres,
Que são mais belos, como diz o bolero, quando está você.
Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!
Escrito por Santiago Gamboa
Tradução livre de Luiz Augusto Michelazzo
É o único tema em que sou radical e intolerante,
No qual não escuto argumentações:
As mulheres da minha geração são as melhores e ponto.
Hoje têm quarenta e muitos, inclusive cinqüenta e tal , e são belas, muito belas,
Porém também serenas, compreensivas, sensatas e sobretudo diabolicamente sedutoras,
Isto, apesar dos seus incipientes pés-de-galinha ou desta afectuosa celulite que cobre as suas Coxas,mas que as fazem tão humanas, tão reais.
Formosamente reais.
Quase todas, hoje, estão casadas ou divorciadas, ou divorciados e recasadas,
Com a intenção de não se equivocar no segundo intento,
Que às vezes é um modo de acercar-se do terceiro e do quarto intento.
Que importa?
Outras, ainda que poucas, mantém um pertinaz celibatarismo e protegem-no como a uma fortaleza sitiada que, de qualquer modo, de vez em quando abre as suas portas a algum visitante.
Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!Nascidas sob a era de Aquário, com a influência da música dos Beatles, de Bob Dylan,
De Lou Reed, do melhor cinema de Kubrick e do início do boom latino-americano, são seres excepcionais.
Herdeiras da revolução sexual da década de 60 e das correntes feministas,
Que entretanto receberam, passadas por vários filtros, elas souberam combinar liberdade com coqueteria,
Emancipação com paixão, reivindicação com sedução.
Jamais viram no homem um inimigo, apesar de lhe terem cantado umas quantas verdades ao ouvido,
Pois compreenderam que emancipar-se era algo mais que colocar o homem a esfregar a casa de banho.
Ou trocar o rolo de papel higiênico, quando este tragicamente se acaba,
E decidiram pactuar para viver em dupla, essa forma de convivência que tanto se critica,
Porém, que com o tempo, resulta ser a única possível, ou a melhor, ao menos neste mundo e nesta vida.
São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam.
Usaram saias indianas aos 18 anos, enfeitaram-se com colares andinos,
Cobriram-se com sweters de lã e perderam a sua parecença com Maria, a Virgem,
Numa noite louca de sexta-feira ou de sábado, depois de dançar El Raton,
Com algum amigo que lhes falou de Kafka, de Gurdjieff e do cinema de Bergman.
No fundo das suas mochilas havia pacotes de Pielroja, livros de Simone de Beauvoir e
Fitas de Victor Jara, e ao deixar-nos, quando não havia mais remédio senão deixar-nos,
Dedicavam-nos aquela canção de Héctor Lavoe,que é ao mesmo tempo um clássico doJornalismo e do despeito, e que se chama.
Teu amor é um jornal de ontem.
Falaram com paixão de política e quiseram mudar o mundo, beberam rum cubano e
Aprenderam de cor canções de Silvio Rodriguez e Pablo Milanez,
Conheceram os sítios arqueológicos importantes, foram com os seus namorados às praias,
Dormindo em barracas e deixaram-se picar pelos mosquitos, porque adoravam a liberdade e,
Sobretudo, juraram amar-nos por toda a vida, algo que sem dúvida fizeram e que hoje continuam
A fazer na sua formosa e sedutora maturidade.
Souberam ser, apesar da sua beleza, rainhas bem educadas, pouco caprichosas ou egoístas.
Deusas com sangue humano.
O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro para que suba,
Se inclina sobre o assento e, por sua vez, abre a do seu acompanhante por dentro.
A que recebe um amigo que sofre, às quatro da manhã, ainda que seja o seu ex-noivo,
Porque são maravilhosas e têm estilo, ainda quando nos façam sofrer, quando nos enganam ou nos deixam,
Pois o seu sangue não é gelado o suficiente para não nos escutar nessa salvadora e última noite,
Na qual estão dispostas a servir-nos o oitavo uísque e a colocar, pela sexta vez, aquela melodia do Santana.
Por isso, para os que nascemos entre as décadas de 40 e 60, o dia da mulher é, na verdade, Todos os dias do ano, cada um dos dias com as suas noites e os seus amanheceres,
Que são mais belos, como diz o bolero, quando está você.
Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!
Escrito por Santiago Gamboa
1 Comentários:
Às 5:02 PM , Anônimo disse...
Que poema giríssimo! Gostei imenso!
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